Dia Mundial do Queijo é celebrado nesta quinta-feira
Secretaria de Agricultura de Minas Gerais comemora a data com lançamento de série de vídeos sobre iguarias premiadas e anúncio de publicação de caracterização de nova região produtora, em breve, pelo IMA
Para o mineiro, todo dia é dia de queijo. Porém, mundialmente, a data é celebrada na próxima quinta-feira (20/1). De qualquer modo, motivos para comemorar, com café coado na hora, doce de leite, cachacinha ou um bom vinho produzido em Minas, especialmente na safra de inverno, não faltam.
Minas Gerais tem a maior bacia leiteira do país, com produção, em 2020, de 9,7 bilhões de litros, segundo o IBGE. O volume corresponde a 27% do total nacional, com 25,5 bilhões de litros, e registrou um crescimento de 2,6% com relação a 2019. Para se ter uma ideia de como a produtividade mineira é significativa, a quantidade de leite produzido em Minas é superior à destinada à fabricação de queijos em todo o país, de 8,7 bilhões de litros.
Além de 30 mil produtores rurais mineiros, elaborando 85 mil toneladas de queijos artesanais por ano, conforme estimado pela Emater-MG, os produtos lácteos industriais são de grande relevância econômica. O Sindicato da Indústria de Laticínios do Estado de Minas Gerais (Silemg) contabiliza 156 associados em todas as regiões de Minas. De acordo com o levantamento do Sindicato, essas indústrias processam 85% do leite inspecionado no estado.
As estimativas do Silemg apontam ainda 216 mil fazendas produtoras de leite em Minas e um milhão de empregos gerados por toda a cadeia leiteira. Do volume de 1,2 milhão de toneladas de queijo produzidas no Brasil, em 2020, cerca de 40% do total tem Minas Gerais como origem. As exportações brasileiras do produto, no mesmo ano, alcançaram a receita de 76 milhões de dólares.
A secretária de Agricultura, Ana Valentini, destaca as perspectivas de um cenário ainda mais promissor para o setor a curto e médio prazos. “Temos programas de melhoramento genético de rebanhos, de recuperação de pastagens e de valorização dos queijos artesanais. Também é importante lembrar as pesquisas na área de laticínios com o nosso Instituto Cândido Tostes, vinculado à Epamig. Com isso, a expectativa é de que a produção de leite e derivados cresça muito no estado durante os próximos anos”, explica.
Novidades
Para celebrar, a Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa) de Minas Gerais inicia 2022 com novidades no setor. A primeira delas é a caracterização da região de Diamantina como produtora de Queijo Minas Artesanal (QMA). O trabalho de levantamento histórico e produtivo regional foi realizado pela Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater-MG) e o processo, já em tramitação na Seapa, segue para avaliação final e publicação pelo Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA).
Atualmente, o estado possui oito regiões caracterizadas como produtoras de QMA – Araxá, Campos das Vertentes, Canastra, Cerrado, Serra do Salitre, Serro, Triângulo Mineiro e Serras da Ibitipoca -, além de cinco regiões produtoras de outros tipos de queijos artesanais: Vale do Jequitinhonha, Vale do Suaçuí, Alagoa, Serra Geral (Norte de Minas) e Mantiqueira de Minas. Do total de 30 mil produtores em Minas, a Emater-MG estima que 9 mil deles estejam nas regiões caracterizadas.
Série de vídeos
A segunda boa nova é a série de vídeos “Campeões de Minas”, com periodicidade semanal, que começa a ser veiculada nas redes sociais da Secretaria de Agricultura nesta quinta-feira (20/1), como parte das comemorações do Dia Mundial do Queijo. Nela, serão apresentadas as histórias de produtores medalha de ouro no Araxá International Cheese Awards, concurso realizado durante a ExpoQueijo 2021, em novembro, no Triângulo Mineiro.
Das 118 premiações entregues e mais de 800 queijos participantes, 66 medalhas foram conquistadas por produtores de Minas Gerais, sendo 22 delas de ouro. A região da Alagoa liderou o quadro de medalhistas no estado, totalizando 12; e foi seguida pela Mantiqueira (9) e por Araxá (7), Canastra (6) e Serro (5). No ranking de estados brasileiros premiados, São Paulo ficou em segundo lugar, com 19 condecorações, sendo cinco de ouro.
No vídeo de estreia, será apresentada a história de Sandra Oliveira, de Araguari, município do Triângulo Mineiro com cerca de 120 mil habitantes, conforme as estimativas mais recentes do IBGE. A iguaria produzida na queijaria que leva o seu sobrenome foi a grande vencedora na categoria queijo de vaca, leite cru, com tratamento da coalhada crua, meia cura (30 a 60 dias) e casca lisa.
Sandra conta que o produto não para mais na prateleira, desde que recebeu a medalha de ouro no concurso de Araxá. “É muito gratificante, eu me sinto realizada em fazer o queijo, ainda mais agora sendo reconhecida. Falo assim que, para mim, é uma terapia que eu faço. O dia que eu não faço queijo, no domingo, eu tenho que ir lá de manhã, ir lá à tarde, olhar como está a carinha deles”, relata a produtora.
Dedicação
Além de orgulho para toda a população do estado, a produção mineira de queijos é fonte de emprego, renda e oportunidades no campo. Maria Elena Oliveira, de Monte Carmelo, município com aproximadamente 50 mil habitantes, na região do Alto Paranaíba, sabe bem disso. Há cerca de 30 anos, iniciou a produção de queijos, ao lado do marido, Jales Clemente.
“O básico mesmo é tradição da família dele, mas nós fizemos vários cursos, por exemplo, da Emater-MG, que são muito bons. Antes da pandemia, eu viajei, conheci queijarias. Tudo o que a gente fica sabendo, agrega”, recorda a produtora.
Com dedicação, foco e orientação adequada, em 2011, a marca da família, que leva o nome de Luana, filha do casal, conquistou a primeira certificação do IMA. A partir de então, os produtos deixaram a informalidade e ganharam as prateleiras de grandes centros urbanos em Minas, como Uberlândia e Belo Horizonte.
Mais recentemente, no último mês de novembro, veio outro resultado desse trabalho de décadas: a produção foi reconhecida com o Selo Arte do IMA. Agora, o queijo Luana é comercializado em Salvador (BA), São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ), Curitiba (PR), Goiânia (GO), Brasília (DF). “Depois disso, ninguém segura a gente”, brinca Maria Elena.
Internacional
Apesar da brincadeira, Maria Elena tem razão. O planeta que, nesta semana, comemora o Dia Mundial do Queijo está atento à produção mineira. O estado, cujo modo de fazer do queijo-minas artesanal é reconhecido como patrimônio imaterial pelo Instituto do Patrimônio Histórico Artístico e Cultural Nacional (Iphan), vem se destacando em diversos prêmios internacionais pela excelência e qualidade.
Em 2021, por exemplo, 40 produtores mineiros receberam medalhas em um concurso na França. O produtor Johne Santos Castro, de Vargem Bonita, município da região da Canastra, com cerca de 4,5 mil habitantes, voltou para casa com duas condecorações de bronze e uma de ouro, conquistada pelo Sinhana Mons Crémeux, exemplar de pasta mole e sabor encorpado.
“Nossa tradição queijeira começou com meus avós, há 72 anos, e a marca Queijo do Johne existe faz mais de uma década. Mas eu falo que, na verdade, esses prêmios não são nossos. Toda a região ganha, porque temos várias culturas de queijo na Canastra e até mesmo no Brasil. Isso leva o nome da nossa região para fora”, afirma.
Agroindústria
Como política pública voltada para a agroindústria, em implantação pelo Governo de Minas, destaca-se a regulamentação de indústrias de pequeno porte, devido a alterações na Lei 19.476. A atualização do instrumento, construída em conjunto com as instituições vinculadas à Seapa – Emater-MG, Epamig e IMA -, está em fase final de tramitação na Secretaria de Agricultura, para o passo seguinte, que consiste na publicação do decreto estadual.
Deverão ser beneficiados todos os setores agroindustriais mineiros, atuantes com produtos de origem animal e vegetal, a partir da inclusão de pequenas indústrias de pequeno porte nos perímetros urbanos e periurbanos e da diminuição da burocracia, com maior facilidade para registro e regularização dos estabelecimentos.
Outro destaque de incentivo à produção é a manutenção, pelo estado de Minas Gerais, da política de crédito presumido de ICMS para operações de leite, em que parte do percentual do valor do ICMS (2,5%) é repassado ao produtor rural. A ação favorece a agroindústria e demais produtores que comercializam o produto fluido, não pasteurizado.