Personalidade do Queijo – Eduardo Girão

O Portal do Queijo sempre busca pessoas que se destacam neste mercado para trazer a nossos leitores experiências diversas. E tem se tornado atuante neste segmento o jornalista gastronômico Eduardo Tristão Girão que, desde 2016, promove degustações harmonizadas de queijos artesanais mineiros.

Eduardo Girão foi repórter do jornal Estado de Minas de 2004 a 2016. Já colaborou com o jornal Estado de São Paulo e as revistas Prazeres da Mesa, Gula, Encontro e do Supermercado Verdemar, além de ter integrado o júri da lista anual The World’s 50 Best (50 Melhores Restaurantes do Mundo) da revista inglesa Restaurant entre 2010 e 2012. Fez viagens gastronômicas para Portugal, Chile e Espanha e cobriu a maioria das edições do Festival de Cultura e Gastronomia de Tiradentes, além de eventos como Mesa Tendências (São Paulo; 2008 e 2014) e Madrid Fusión (Espanha; 2013). Avaliou bares e restaurantes para o Guia Unibanco Minas Gerais (editora Bei, 2005). Atua como mediador e jurado em competições, debates e demais eventos do setor gastronômico.

Ele contou um pouco de sua trajetória e falou sobre a experiência com os queijos artesanais, confira:

Por onde você começou sua carreira no jornalismo? Sempre cobriu gastronomia?

Comecei minha carreira no jornal Estado de Minas, em 2004, escrevendo reportagens sobre gastronomia. Foi obra do acaso, pois nunca imaginei escrever sobre gastronomia e na faculdade ninguém jamais falou que isso era uma possibilidade. Aos poucos, passei a escrever também sobre temas de cultura para o jornal, mas sempre mantendo a gastronomia como minha principal área de cobertura jornalística. Em outubro do ano passado decidi me desligar do jornal e não só continuo no jornalismo gastronômico como ampliei as maneiras de atuação nesse mercado. Novos projetos estão a caminho.

 

Além da graduação em Comunicação Social – Habilitação Jornalismo, chegou a fazer algum curso ou especialização em gastronomia?

Não. Todo o conhecimento sobre gastronomia que tenho acumulei por meio de reportagens, entrevistas, conversas, viagens, concursos, leituras, congressos e os mais variados eventos sobre o assunto, além de demoradas visitas à produtores, mercados e cozinhas de todo tipo e em todo lugar. Fiz alguns cursos livres e aulas de culinária avulsas ao longo da minha carreira, o que também contribuiu para minha formação. Um aprendizado na prática, essencialmente. Aprendizado esse que jamais terminará, aliás.

 

Você visitou produtores de queijo do interior de Minas Gerais. Essa iniciativa partiu de ideia ou vontade sua ou veio de algum convite? Conte-nos um pouco sobre essa experiência.

Sempre gostei de comer queijo minas artesanal e sempre me interessei em saber mais sobre o produto. Naturalmente, fui acumulando conhecimento a respeito e tendo ideias de reportagens para escrever sobre queijos, produtores e tendências desse universo. Essas viagens começaram cerca de dois anos atrás, informalmente. Aproveitava uma viagem cujo trajeto me aproximaria de um produtor, marcava visita com ele e desviava a rota para conhecê-lo. Até que, em janeiro do ano passado, passei parte de minhas férias na Canastra, onde conheci alguns produtores. Esses experiências de contato direto com o produto e o produtor em seu contexto de origem me fascinaram e passei a vivê-las sempre que possível. A dimensão humana envolvida no processo e a relação do produtor com a natureza são aspectos que mudam a visão da gente sobre o queijo. Minhas últimas visitas foram a produtores do Serro e ainda percorrerei outras regiões queijeiras do estado para ampliar meu conhecimento e escrever novas reportagens.

 

Chegou a conhecer todos os tipos de queijo produzidos em Minas? Enquanto jornalista gastronômico, como você avalia os queijos mineiros no cenário nacional e internacional?

Estou longe de conhecer todos os tipos de queijo produzidos em Minas e provavelmente morrerei sem fazê-lo. No entanto, isso me estimula a cair na estrada sempre que possível. A riqueza mineira nesse aspecto é apaixonante, um novo capítulo começa agora na história do queijo mineiro e o estado segue identificado diretamente com esse produto aos olhos do país. Os queijos artesanais produzidos em Minas vem melhorando em qualidade, a tipicidade não foi deixada de lado e cada vez mais produtores apostam na maturação como forma de demonstrar tudo isso. Paralelamente, o consumidor valoriza e busca cada vez mais conhecimento e o estado finalmente parece disposto a começar a cooperar com o pequeno produtor. Temos história, tradição, produto, pessoas e, mais recentemente, pesquisas. Não posso comparar com o que acontece nos países europeus que são reputados produtores de queijo, mas posso dizer que o momento do queijo mineiro é único.

 

Enquanto consumidor e jornalista de gastronomia, o que você considera que mais difere o queijo artesanal do industrial? Acredita que seja o sabor, a textura ou o “conjunto da obra”?

O queijo artesanal tem poesia. Ele muda em função de uma série de fatores, tais como região, época do ano, alimentação das vacas, bactérias envolvidas, técnicas de maturação, manejo dos animais e, claro, a mão do produtor. Isso é encantador e faz do queijo artesanal um produto vivo, vibrante, apaixonante. Jamais comeremos um queijo idêntico ao outro, ainda que sejam do mesmo lote e de um único produtor. Ainda assim, somos capazes de reconhecer um perfil de sabor médio desse queijo se o comermos regularmente, ou seja, uma espécie de personalidade básica que atravessa o ano inteiro, ora mais cremosa, ora mais seca, ora mais potente, ora mais suave. Já o queijo industrializado mantém um padrão, tem características estáveis o ano inteiro, e isso não é um problema. Espera-se isso de um queijo industrializado. Isso não torna esse queijo melhor ou pior que o artesanal, mas apenas diferente. São universos absolutamente distintos. Inclusive, realizei recentemente uma degustação de queijos industrializados mineiros com exemplares de ótima qualidade. Há momento para tudo.

 

Recentemente, você passou uma temporada na França aprendendo sobre queijos e suas harmonizações. O que trouxe de interessante para mostrar aos mineiros?

Apesar de não ter sido uma viagem para pesquisar esse tema, comi diariamente os queijos franceses. Havia acabado de me desligar do jornal depois de 12 anos dedicado à empresa e passei dois meses em Paris. Foi um misto de férias e oportunidade de ter as mais variadas experiências gastronômicas. Desde comer clássicos franceses a conhecer feiras de imigrantes, passando por restaurantes étnicos, mercados especializados e pura observação dos hábitos franceses. No meio disso tudo, visitas incríveis como à centenária loja Androuet, cuja variedade de queijos franceses é algo estonteante. Lá é possível comprar queijos de excelente qualidade informando ao atendente as características desejadas, mais ou menos como já acontece com a experiência de comprar vinho. Isso é lindo. De forma geral, posso dizer que essa experiência me abriu os olhos para sonhar com o lugar em que o queijo mineiro pode chegar em algum momento do futuro.

 

Como surgiu a ideia de realizar as harmonizações de queijos?

A ideia desse evento surgiu ano passado com o convite da Renata De Paoli, proprietária do bar INcanto, aqui em BH. A ideia foi dela e aperfeiçoamos juntos o formato final. Ela queria realizar essa atividade na casa e chegou ao meu nome por um amigo em comum. Na época, eu já tinha um conhecimento razoável sobre queijos mineiros artesanais. Por questão de agenda, curiosamente, acabamos não realizando até hoje este evento no bar. Ainda quero realizar uma degustação dessa lá.

 

Qual a periodicidade das harmonizações de queijos? Você trabalha com estas aulas só em BH ou também está atuando em outras cidades e Estados? Em suas oficinas de harmonizações de queijos, com quais tipos de bebida você trabalha?

A primeira degustação fiz em setembro do ano passado. Tenho trabalhado sob demanda, o que dá, em média, dois a três eventos por mês. Além de promovê-los por conta própria, atendo empresas e grupos fechados que me procuram. Há possibilidades de realizar degustações em São Paulo e no Rio de Janeiro, mas ainda sem confirmação. Fora de Belo Horizonte, estive apenas em Diamantina e Tiradentes com essa atividade, até o momento. Na maioria das ocasiões, uso cervejas especiais mineiras nas degustações, mas tenho feito cada vez mais eventos com vinhos. Já fui procurado para desenvolver harmonizações com café e cachaça também.

Uma das degustações promovidas pelo jornalista. Crédito Guilherme Bergamini

Geralmente, qual o público mais interessado pelo assunto queijeiro e por suas oficinas de degustações?

O público que comparece às degustações é formado por interessados em gastronomia de maneira geral. Além disso, a bebida que uso em cada evento ajuda a atrair amantes de cerveja ou vinho, por exemplo. Por outro lado, em eventos maiores, como as degustações que realizei no Festival do Queijo Minas Artesanal e no Festival de Gastronomia de Tiradentes, o público é bem diversificado, o que inclui de curiosos a chefs de cozinha. São situações igualmente gratificantes para mim, enquanto profissional da comunicação.

 

Você está trabalhando em algum outro projeto gastronômico além das degustações (se pudermos lançar a novidade de seu site em primeira-mão, conte-nos um pouco mais sobre ele)?

Estou preparando para breve o lançamento de um site de gastronomia. Ele terá foco em Belo Horizonte, mas será aberto a boas pautas seja lá onde for, do interior de Minas a outros países. Será assinado por mim e terá atualização diária, incluindo notícias, críticas de gastronomia e relatos de viagem, entre outros conteúdos. Tudo com o mesmo cuidado que sempre caracterizou o jornalismo que faço.

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