Formado em medicina veterinária em 1974, pela UFMG, O Dr. Altino Rodrigues Neto sempre procurou se especializar na área. Passou por várias funções públicas como Instituto Mineiro de Agropecuária, Secretaria de Estado da Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais, onde aprendeu mais sobre a pecuária e ter uma visão mais delicada do trabalho do produtor rural.
Em sua atuação no Sistema FAEMG, é presente junto aos produtores de queijos artesanais, promulgando a primeira lei que permitia a comercialização destes queijos dentro dos limites do Estado de Minas Gerais.
A equipe do Portal do Queijo conversou com sr. Altino que contou um pouco mais da sua história. Confira:
O senhor possui uma grande trajetória enquanto médico veterinário, passando por diversas entidades entre IMA-Instituto Mineiro de Agropecuária, Conselho Estadual de Política Agrícola – CEPA, Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais dentre outras, onde atuou nas áreas de bovinocultura, cafeicultura. O que essa experiência agregou à sua função enquanto superintendente da FAEMG?
Minha passagem por essas funções me permitiu visão ampla da agropecuária mineira, do ponto de vista do serviço público e do cumprimento das leis, já que o IMA, onde atuei por 16 anos como diretor, é o órgão responsável pela defesa sanitária animal. Minha vinda para a Faemg tem me proporcionado ver o lado do produtor e compreender melhor suas dificuldades. Desta forma, posso atuar como interlocutor com o serviço público.
O senhor é muito atuante junto aos produtores de queijo minas artesanal pela FAEMG. Desde sua atuação à frente da superintendência técnica, o que mudou em relação a eles?
Mesmo quando diretor-geral do IMA, entendia que os produtos artesanais não poderiam seguir as mesmas normas dos produtos industriais. Tanto que elaboramos a primeira lei estadual que permitia a comercialização dentro do Estado, de queijos produzidos com menos de 60 dias de maturação, como exige o Rispoa. Essa postura fez com que os produtores acreditassem que poderíamos lutar para mudar a legislação federal. Já na Faemg, tive apoio da diretoria para criar a Comissão Técnica de Queijo Minas Artesanal, para apoiar politicamente as reivindicações dos produtores.
A legislação brasileira vem sendo apontada por produtores e instituições representativas do agronegócio como um dos principais entraves para o crescimento da produção de queijo artesanal no país. Existe uma solução?
Acredito que, com o grande apoio que a mídia vem oferecendo aos produtores artesanais, a boa aceitação do QMA pelos chefes de cozinha e o apoio de instituições como a Faemg, o SENAR, o Sebrae, podemos mudar a legislação e dar a estes produtos, tão valorizados em todo o mundo, o destaque que eles merecem.
Os queijeiros reivindicam um marco regulatório específico para o produto artesanal. Pode falar um pouco mais sobre este tema?
Só teremos um novo Marco Regulatório para os produtos artesanais quando o Ministério da Agricultura delegar aos estados a responsabilidade de criar suas legislações. Enquanto os responsáveis pela elaboração das normas regulatórias forem os mesmos que cumprem protocolos de países importadores da União Europeia, estaremos sujeitos a normas impraticáveis para os pequenos produtores.
Muito se discute sobre a maturação do queijo que, conforme a atual legislação deve ser feita em até 60 dias. Mas outros países produtores como a França, por exemplo, determinam que a prática seja feita conforme os produtores. O que o senhor orienta nesse sentido?
A melhor estratégia para os produtores é procurar os órgãos de pesquisa para provar que a maturação poderia ser feita com menos de 60 dias. Só assim, as coisas poderão começar a mudar. Em 2013, o Ministério da Agricultura editou portaria permitindo o registro de queijarias que tivessem estudos que comprovassem que a maturação poderia ser feita com menos de 60 dias. Surgiu o estudo da UFV (Universidade Federal de Viçosa) comprovando que, com 22 dias no Serro, e 17 na canastra, o QMA era próprio para consumo. Hoje, há estudos na região de Araxá que com 14 dias o queijo está próprio para consumo. Vários órgãos de pesquisa estão debruçados sobre o assunto e com certeza, esses períodos vão diminuir ainda mais.
Em se tratando das condições básicas de higiene referentes à produção, por parte dos queijeiros. Como o senhor avalia a produção em Minas?
É a melhora nas condições sanitárias e de higiene que nos dão confiança de afirmar que as pesquisas em curso vão comprovar que os produtos podem ser consumidos com segurança e num período de maturação do agrado do consumidor.
Em relação ao leite cru usado na produção do queijo artesanal, qual a recomendação que o senhor dá aos produtores, enquanto médico veterinário?
Cuidar da sanidade do rebanho e obter matéria-prima (leite) de qualidade são os ingredientes necessários para se chegar a um bom produto.
Como o senhor classifica os queijos artesanais mineiros?
Os queijos artesanais mineiros feitos com qualidade não deixam nada a desejar em relação aos melhores queijos do mundo. Recentemente, comprovamos isso, ganhando vários prêmios no Mondial du Fromage, na França.
O senhor acredita que os consumidores estão entendendo melhor a diferença do queijo artesanal mineiro dos demais queijos encontrados em mercados, empórios e supermercados e, consequentemente, dando importância ao produto?
Ainda é recente o entendimento de produtores de queijo e empórios sobre a necessidade de se trilhar o mesmo caminho do vinho e das cervejas artesanais, na orientação aos consumidores, para que saibam diferenciar os bons produtos e também aprender com o que harmonizar o QMA.
A FAEMG realiza constantemente expedições para outros países, como a França, em que vários produtores mineiros foram premiados. Como o senhor enxerga essa troca de experiências e como vê os produtos brasileiros frente aos franceses?
A visita técnica a outros países é uma grande oportunidade para os produtores trocarem experiências, queimarem etapas em assuntos exaustivamente discutidos, como o período de maturação. Outro tema de grande relevância é relativo à atuação do serviço público junto aos produtores.
Quais os próximos passos em relação aos produtores mineiros e a valorização do queijo minas artesanal?
A principal ação da Comissão Técnica do QMA é a luta por uma legislação adequada para os produtos artesanais.
Recentemente, a FAEMG realizou o Festival do Queijo Minas Artesanal, em Belo Horizonte. O que achou da repercussão do evento para os mineiros?
A mídia, produtores e consumidores foram unânimes ao afirmarem que o Festival do QMA foi o melhor evento do setor até hoje realizado no Brasil.
Haverá outro festival previsto? Se sim, pode adiantar os detalhes?
Haverá outro evento em 2018. As reuniões para iniciar os preparativos começarão em novembro. A época vai depender da disponibilidade de datas na Serraria Souza Pinto, mas em princípio será em maio.