Presidente da Aprocan fala sobre os desafios de valorização do queijo minas artesanal da Serra da Canastra
Produtor rural, engenheiro agrônomo, fundador e presidente da SICOOB Saromcredi (Cooperativa de Crédito de Livre Admissão de São Roque de Minas) e da Aprocan (Associação de Produtores de Queijo Minas Artesanal da Serra da Canastra), João Carlos Leite não para. Na porta da fazenda Agroserra, a 1 quilômetro do centro de São Roque, clientes desejam encomendar queijos, o tempo todo.
Ele não se deslumbra. “Me envaidece saber que meu produto está bem cotado. Mas isso não é o mais importante. Sou um homem obstinado. Odeio injustiças sociais, miséria, corrupção e falta de compromisso. Gosto é de gerar riquezas, empregos e de ver gente feliz”.
Ele é um dos principais incentivadores dos pequenos produtores e vai de propriedade em propriedade explicar o que é necessário para fazer parte da Aprocan e obter o Selo de Indicação de Procedência, concedido pelo Inpi (Instituo Nacional da Propriedade Industrial) e o Sisbi-POA (Sistema Brasileiro de Inspeção de Produtos de Origem Animal).
A APROCAN
“Nós tinhamos alguns paradigmas a serem quebrados e os quebramos. O primeiro deles era resgatar o processo de produção do queijo maturado; o segundo, tornar o nosso queijo um símbolo da gastronomia brasileira, e o terceiro, conseguir uma legislação adequada. Por este último ainda estamos lutando”.
ESPAÇO DE COMUNICAÇÃO
“Funcionamos como um espaço de comunicação, integração e troca de informações entre produtores e o mercado. Por meio de cursos, palestras e participações em feiras, como a Aproxima, oferecemos orientações e práticas para melhorar a vida dos queijeiros. Fazemos um trabalho de aculturamento. O produtor participa de reuniões mensais e aprende ou reaprende a maturar o queijo. Hoje temos 45 associados. A Aprocan também ajuda a vender o queijo maturado, sem a interferência de atravessadores, garantindo um preço justo”.
A MATURAÇÃO
“O processo foi, praticamente, abandonado na Serra da Canastra nos anos 80 porque houve uma alta na demanda. Os atravessadores, que compravam o produto a cada trinta dias, passaram a comprá-lo com vinte e poucos dias de maturação. A demanda continuou alta até que passaram a adquirir o queijo fresco, com dois ou três dias. Isso jogou os preços lá embaixo, acabou com a maturação e desestimulou os queijeiros a continuarem no ramo”.
MAIORIA É DE AGRICULTORES FAMILIARES
“Dos 800 produtores que existiam somente em São Roque de Minas nos anos 80, sobraram 397. Destes, metade mudou de atividade, segundo levantamento feito pela UFV (Universidade Federal de Viçosa), subsidiado pela Aprocan e pelo Sebrae. Oitenta por cento da outra metade restante é de agricultores familiares. Grande parte continua vivendo em baixas condições econômicas e sociais”.
MARCO REGULATÓRIO
“No Brasil, não existe uma legislação específica para a produção de queijo artesanal. A que existe é de 1952 que, de certa forma, é mais prejudicial do que benéfica à cadeia produtiva. Ela traz parâmetros e auditagens do universo da indústria. Precisamos de um marco regulatório que tenha parâmetros de inspeção sanitária, levando-se em conta as características e a infraestrutura da produção artesanal. Uma proposta já foi entregue ao Mapa e estamos aguardando uma decisão“.
LEGISLAÇÃO MINEIRA
“A Lei da Agroindústria Familiar Mineira dá um prazo de dois anos para o produtor se adequar. Nesse período, ele tem o cadastro provisório do IMA. É um respiro. Esta lei é a primeira que regulamenta a produção de queijo artesanal em MG”.
QUEIJEIROS FRANCESES
“Na elaboração da lei mineira, houve grande contribuição de queijeiros franceses. Convidados pelo governo de Minas na gestão do secretário de Agricultura, Alisson Paulinelli, eles trouxeram quatro conceitos básicos: água potável; animais livres de zoonoses; boas práticas de ordenha e a rastreabilidade, para evitar as falsificações. Isso foi um divisor de águas”.
TRANSFORMAÇÃO SOCIAL
“É notória a ascensão social dos queijeiros. Quando as famílias melhoram qualidade de vida, têm acesso à tecnologia, bens sociais e investem em proteção ambiental. Mas nem tudo são flores. Com a valorização do nosso queijo, temos que lidar com a pirataria. É fácil encontrar por aí distorções como o “Queijo Canastra de Araxá”, o “Queijo Canastra do Serro”, e até nos Estados Unidos já tivemos notícia de um “Nild Minas Cheese Canastra”, em Boston”.
PIRATARIA
“Estamos testando uma tecnologia usada há decadas na Europa, que é uma placa de caseína. Trata-se de uma proteína do leite que, industrializada, transforma-se em material plástico. Nele, é possível grafar com tinta comestível. O resultado é que o queijo fica “tatuado” com os caracteres que se desejarem”.
ADAPTAÇÕES SÃO ACESSÍVEIS
“O mais caro são as adaptações físicas nas instalações. Mas os produtores podem acessar linhas de recursos oficiais, como o Pronaf Investimento”.
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Créditos: Maria Teresa Leal
Fonte: Sistema Faemg
Gostaria de saber se esses queijos artesanais tb cultuam o bem
Estar do animal, n tirando o bezerro da mãe etc.
Olá Caroline, como vai? Sugerimos que ligue na Aprocan – uma associação de produtores do Queijo Canastra. Talvez possam te ajudar: (37) 3433-3000
Gostaria de conhecer todo o processo de fabricação de um queijo em uma fazenda, poderia indicar uma fazenda que permite esse tipo de visita?
Boa tarde, Orlando!
Vou te passar um link com os produtores em nosso site. https://portaldoqueijo.com.br/rota-do-queijo/produtores/